A história dela.
- lasaleteprazeres
- 7 de jul. de 2018
- 4 min de leitura
" Zinhaaa, leva essa saca de banana para a D. Maria."
Era uma vez uma menina que logo desde cedo começou a trabalhar para poder se sustentar. Vivia com a sua avó e com três dos seus irmãos numa modesta casa de madeira. A sua mãe morrera muito cedo e seu pai vivia distante da cidade, na roça.
Ela era uma criança bastante obediente, seguia à risca as líderes de casa e ainda era a moça de recados - " Zinhaaa, leva essa saca de banana para a D. Maria." Transportava pesos na cabeça, descalça, percorrendo quilómetros num compasso leve leve até chegar ao seu destino. Chegava a casa passado horas e não podia ir descansar enquanto sua avó não lhe endireitasse o pescoço. É que o peso era tanto que o pescoço encolhia.
Aos 13 anos decide ir trabalhar como babá para casa de um casal de portugueses que na altura residia no Príncipe. Um médico e uma Professora, que necessitavam da ajuda da menina e com eles levaram para Portugal, onde ficaram cerca de um ano. Ela já com 15 anos de idade, regressam para S.Tomé, onde lá decide viver não regressando mais para sua terra Natal, Príncipe.
Aprendeu a cozinhar com a Sra. Maria que trabalhava para o casal de portugueses também, como cozinheira. A Sra. Maria era como se fosse uma segunda mãe para a menina. Com ela cresceu e aprendeu a fazer tudo - " A Sra. Maria gostava muito de mim, tratava-me como se fosse filha dela, era mesmo muito boa para mim."
A menina tornou-se jovem e ainda lá continuava com a sua vida de doméstica e babá. No entanto a vida dela não se baseava só em trabalho. Como trabalhava como interna na casa dos seus patrões, o seu dia de folga era sábado. Era o único dia que dava para aproveitar para se divertir. Então lá ia com a Sra. Maria para as festas no Fundão.
Aos seus 23 anos conhece o seu primeiro amor, apesar de ter tido outros namorados, aquele ganhou um lugar especial. Relacionou-se com Florentino Fernandes Ramos cerca de dois anos entre muitas atribulações e discordas até ao dia da sua rutura. Entretanto, a jovem menina engravida e tem um filho lindo que lhe deram de nome Sidney.
Mais tarde, já com os seus 29 anos, a jovem menina recebe uma proposta de emprego irrecusável. Os patões com quem trabalhava, nessa altura também eram portugueses e iam regressar para Portugal e queriam que a jovem menina viesse com eles. Devido a algumas dificuldades financeiras, a jovem menina aceita a proposta e deixa a sua terra com o seu filho ao colo em busca de uma nova vida.
Portugal em 1982, era para muitos africanos um ponto de partida. O desejo de uma vida melhor era presente no olhar de cada um deles. Sem exceção para a jovem menina, que numa brincadeira já era adulta e começava uma nova vida num país que já conhecera mas ainda assim ainda era lhe estranho. Com muita ajuda dos seus patrões, Sr. Afonso e D. Rosa Cabral, ela conseguiu desenvencilhar-se e ter uma vida normal.
Numa festa de passagem de ano, onde ia acompanhada por os seus primos conhece uma pessoa. Pessoa essa que se torna especial e decidem ir viver juntos. Gustavo Manuel da Costa dos Prazeres foi o motivo ao qual ela deixou de ser interna para poder ir viver como uma família normal na sua própria casa. Passado dois anos casa-se e pouco tempo depois engravida da sua segunda filha Anita.
Foram 3 anos a viver o que pensava ser um conto de fadas, novamente a enganar-se no que diz respeito ao amor. Decidiu ir viver sozinha com os seus dois filho em busca de uma nova felicidade.
Mãe solteira de dois filhos menores, trabalhou até o suor sair-lhe na cara para poder dar aos seus únicos filhos o que ela nunca pode ter na vida.
Contei te a breve história de vida da minha mãe.
Quase não teve infância, foi obrigada a crescer rápido e desde cedo trabalhar para se tornar independente. A minha mãe pouco desejou mas mesmo assim nem isso conseguiu alcançar. O verdadeiro amor encontrou nos seus únicos filhos, e por eles moveu mundos e fundos. Trabalhou, chorou, sacrificou-se, lutou para nos dar tudo e sermos o que somos hoje. Por isso, eu e o meu irmão fazemos-lhe tudo para que ela se sinta sempre bem, se sinta uma verdadeira Rainha, e agradecemos a Deus por nos ter dado esta preciosa mulher como nossa mãe.
Eu sei que existem muitas mais Rainhas neste mundo com histórias de vida marcantes, que um dia sacrificaram para hoje os seus filhos serem alguém na sociedade, e essas Rainhas temos sempre que glorificá-las.
A minha mãe hoje encontra-se com 64 anos de idade, e olhando para trás, diz não se arrepender de nada do que fez. Se tivesse feito de outra forma provavelmente hoje não estaria a residir em Lisboa, ou então não teria filhos, ou até mesmo não estaria mais no mundo. E eu como sua filha concordo plenamente, porque nada é por a caso, tudo na nossa vida tem um propósito, simplesmente é o seu destino. Precisou sofrer para hoje ser a mulher e mãe que é hoje, feliz e realizada.
Um verdadeiro exemplo que pretendo levar comigo para o resto da minha vida <3
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